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Operadoras de saúde e o piso da enfermagem: E aí?

29 agosto 2022 - 16:16

Artigo escrito pelo médico e membro da Abramge-MG, doutor Guilherme Lacerda

No segmento da saúde o que mais se tem falado nos últimos dias é sobre o piso salarial de nossos queridos enfermeiros, técnicos e auxiliares.

Notícias de demissões, fechamento de unidades, readequações estratégicas, liminares, STF e tantas outras informações que ficamos um tanto quanto atordoados.

Antes de falar de cifras, vamos falar dessas pessoas que ganharam esse novo degrau em suas carreiras. Será que mereciam ganhar o dobro que ganhavam? Lógico que não! Deveriam ganhar o triplo ou até mais.

Profissionais que passam a maior parte do tempo cuidando de nossos pacientes em qualquer lugar do mundo. É sangue, é secreção, é urina, fezes, feridas, angústias, dores e tudo mais que esses seres humanos precisam lidar.

Missionários mesmo! A classe merece e deve ser parabenizada por essa conquista. Dito isso, temos que discutir como em qualquer outro segmento ou classe, as premissas para que isso se torne viável e perene.

Tudo para ter sucesso deve ter o mínimo de planejamento. Se não, começa a gerar sentimentos de medo, receio, ansiedade e até mesmo debater se tudo valeu a pena.

Quando se “passa a régua” numa questão como essa com fontes financiadoras diversas, a coisa complica um pouco. Se um paciente é “particular” e o profissional tem a carteira assinada, a fonte financiadora sabe de onde tirar mais recursos, pelo menos tentará.

Uma clínica de repouso particular terá certamente que repassar o investimento extra (não vou chamar de custo) nas mensalidades para o tomador final. O setor público acaba se adequando com normativas, leis orçamentárias, verbas extras.

Até agora até que achamos um jeito de viabilizar. Mas e as operadoras de saúde? Aí numa palavra bem mineira, o “trem” assusta.

Basicamente só temos duas colunas para gerarmos lucros ou sobras: aumentando receitas ou diminuindo despesas.

Se uma dessas colunas que é a receita é engessada e regulada por órgãos federais, ditando o quanto elas podem reajustar, só sobra a coluna da despesa para agir.

Mas com essa nova lei a despesa aumenta ainda mais, por isso a maioria das operadoras tiveram que correr atrás de verticalizações, fusões e centros de serviços compartilhados.

As operadoras que já estavam sem oxigênio, saíram do pronto atendimento, estão na UTI há um bom tempo e muitas já faleceram. Qual a fonte financiadora se não se pode reajustar seus produtos?

Hoje pouquíssimas ou nenhuma operadora de saúde não possui gestão mínima de suas contas, cortam na carne onde podem.

As que se fundiram e verticalizaram ganharam escala, mas mesmo assim terão forte impacto na despesa. As menores operadoras que fazem um brilhante papel em cidades mais distantes dos grandes centros e que possuem a capilaridade que as grandes não conseguem serão brutalmente afetadas, pois os hospitais que custeiam esses grandes profissionais irão solicitar majoração de tabelas ou interrupção dos serviços. A conta não fecha.

Enfim, vamos ter mais uma vez que debruçar exaustivamente sobre essa questão e achar um caminho. Que Deus nos abençoe.

Dr. Guilherme Lacerda, médico, Diretor Executivo na Hasil Consultoria e Membro da Diretoria na ABRAMGE-MG

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