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MORTES POR PRINCIPAIS DOENÇAS NÃO TRANSMISSÍVEIS AVANÇAM 26% NO PAÍS

19 junho 2018 - 19:53

Levantamento do Estado considera câncer, diabete, doenças cardiovasculares e problemas respiratórios e aponta avanço de 542 mil para 645 mil óbitos/ano desde 2006

Em dez anos, o número de brasileiros mortos pelas principais doenças não transmissíveis (câncer, diabete, doenças cardiovasculares e problemas crônicos respiratórios) aumentou 26%, passando de 542 mil em 2006 para 685 mil em 2016 (último dado disponível), segundo levantamento feito pelo Estado no Datasus, sistema de informações do Ministério da Saúde. O índice é superior ao crescimento populacional no período, que ficou em torno de 9%, de acordo com dados do IBGE.

Considerando todos os tipos de doenças não transmissíveis, o número de vítimas anuais no País chega a quase 1 milhão e custa ao sistema de saúde o equivalente a R$ 7,5 bilhões. A estimativa foi divulgada nesta sexta-feira, 1º, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), durante lançamento de uma lista de recomendações e políticas em que apresenta estratégias para que os países possam combater essas doenças. A iniciativa foi elaborada por 26 especialistas e chefes de Estado, incluindo Tabaré Vázques (Uruguai) e Michele Bachellet (Chile).

Além de mortes, as DNTs diminuem a qualidade de vida dos doentes e podem deixar sequelas. Hiromi Okada, de 82 anos, convive há mais de 20 anos com hipertensão e diabete. Com a alimentação controlada e remédios, levava uma vida normal e ativa desde os diagnósticos até que, em novembro, teve um enfarte e passou a ser assistida 24 horas por atendimento médico domiciliar.

“Ela sempre foi muito ativa e saudável. Fazia questão de comer muitas frutas, verduras e legumes. Depois das doenças, ela diminuiu o sal da comida, evitou doces. Também ia à natação ou hidroginástica duas vezes por semana”, conta a filha Emi Okada, de 47 anos.

Embora a maioria dos casos de DNT esteja associada a hábitos de vida não saudáveis, o envelhecimento e a genética também interferem no aparecimento e no agravamento do problema. No caso de Hiromi, o enfarte ocorreu poucos meses depois de ela cair no chuveiro e fraturar cotovelo e coluna.

“Ela tinha pouca visão porque teve glaucoma, mas levava uma vida normal. Cozinhava, saía de casa, fazia tudo sozinha. Mas, depois da queda e do enfarte, a situação mudou muito”, conta a filha, que também toma medicamento para hipertensão e diabete há um ano.

Desafio mundial.O problema não se limita ao Brasil. No mundo, essas doenças matam 41 milhões por ano, o que representa 70% de todas as mortes do planeta. Em termos financeiros, seus tratamentos podem custar para a economia global cerca de R$ 177 trilhões até 2030.

Para os especialistas da OMS, não existe vontade política suficiente para lidar com essas doenças, mesmo diante da produção científica que aponta o peso delas na sociedade e no orçamento específico de saúde. Na avaliação da agência, os 78 países mais pobres poderiam salvar cerca de 8 milhões de vidas até 2030 se investissem US$ 1,27 (R$ 4,78) extra por cidadão a cada ano em prevenção e tratamento de doenças crônicas.

Com esse investimento, os governos conseguiriam economizar o equivalente a R$ 1,3 trilhão em seus serviços de saúde. “O objetivo do relatório é traçar orientações práticas que ajudem os países a cumprirem a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS, sugeridos pela Organização das Nações Unidas, a ONU), que incluem reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis com prevenção e tratamento para promover a saúde mental e o bem-estar da população”, indica a OMS, em um comunicado.

Entre as medidas, o grupo pede que líderes políticos municipais, estaduais e nacionais assumam a responsabilidade por ações locais abrangentes. A iniciativa também sugere que governos adotem uma lista de prioridades e, acima de tudo, fortaleçam a cobertura universal de saúde e reorientem os sistemas de saúde para incluir a promoção da saúde, a prevenção e o controle de doenças.

O grupo de especialistas também pede que governos e a comunidade internacional destinem mais financiamento para o combate às doenças não transmissíveis.

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