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Classe média investe mais em saúde

12 setembro 2012 - 8:48

 

Anualmente aumenta a quantidade da classe média, em consequência, estatísticas a apontam como responsável pelos maiores gastos, inclusive no setor da saúde. As famílias da chamada nova classe média (estrato de 95 milhões de pessoas, sendo que 31 milhões emergiram na última década), gastam mais com alimentação, habitação, vestuário, higiene, assistência à saúde, tabagismo e serviços pessoais do que as da classe alta.

A classe média pode ser a principal responsável por sustentar um crescimento acumulado de 40%, projetado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), para a economia brasileira até 2020. Por esse critério, integram a classe média famílias com renda mensal de R$ 1,4 mil a R$ 7 mil.

Entre outros dados, também, é feita previsão, até 2020, de que a população brasileira crescerá de 7% a 8%, passando para 207 milhões de habitantes, com aproximadamente 70% em idade economicamente ativa. Com isso, o PIB per capita deve crescer mais de 30% em termos reais até o final desta década. O fato pode trazer grandes consequências políticas, econômicas e sociais que necessitam de atenção desde já.

O consumo per capita deve crescer 30% para as faixas de renda A e B e quase 50% para as demais. Dos cerca de R$ 2 trilhões que o Brasil deve adicionar ao PIB até 2020, R$ 1,4 trilhão virá do consumo das famílias. Esse crescimento de poder de consumo será mais evidente na classe C, que já corresponde a 54% da população brasileira e detém um poder de compra de mais de R$ 1 trilhão, o equivalente a 51% de toda a renda das famílias.

A economista Maria Alice Pestana de Aguiar Remy, acredita que esse crescimento da classe média tem efeitos positivos. “Ao contrário dos mais ricos que com o aumento de renda buscam a esfera financeira para multiplicar seus recursos, as famílias de menor renda vão aplicar seus recursos na economia real, gerando empregos e renda”. Entretanto, a economista ressalta a importância de o consumo não se restringir aos bens privados, mas também a bens públicos de qualidade, tais como saúde, educação e transporte.

COMO É DEFINIDA A CLASSE MÉDIA E QUAL O SEU PAPEL

A capacidade de consumo é o que define a categoria social a qual o indivíduo pertence. Com o aumento do poder de compra, reforça-se a ideia de ascensão social, ou seja, de que as pessoas estão melhorando de vida. Em função disso, o governo, por obter apoio da população, busca e dá continuidade a esses tipos de políticas.
Os dados obtidos pela Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram usados pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República para estabelecer o perfil da classe emergente.

De acordo com a economista e pesquisadora da POF, Maria Alice Pestana de Aguiar Remy, o crescimento da denominada Classe C deve-se principalmente a dinâmica financeira dos anos 2000, sobretudo a partir de 2003, quando a atividade econômica estava intensa, tanto no plano externo quanto no interno, fazendo com que o mercado de trabalho passasse a oferecer postos em nível significativamente crescente.
O governo acredita que a nova classe social tem papel central na economia nacional. A ampliação e o seu poder de consumo é considerada levantadora do mercado interno, algo que obteve importância desde a crise econômica internacional em 2008.

DESCONTENTAMENTO COM O SISTEMA DE SAÚDE GRATUITA E UNIVERSAL COLABORA NA BUSCA POR ALTERNATIVAS

Com 23 anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) está passando por uma fase paradoxal. É gratuito e universal, entretanto, possui menos investimento do que a iniciativa privada, que atende menor quantidade de pessoas. Em nenhum outro país é assim, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a despesa estatal brasileira é um terço menor do que a média mundial. Essa contradição talvez seja resultado da falta de recursos públicos para fazer com que o SUS se consolide efetivamente, como previsto na Constituição, porém isso exigiria pelo menos dobrar seu caixa. Na Argentina, por exemplo, 70% dos gastos com a saúde são públicos, enquanto no Brasil, o custo é das famílias.

Como alternativas de serviços de saúde, os brasileiros, podem optar por: postos e hospitais públicos, entretanto, cientes de que o tempo de espera pode ser de até três meses (incluindo realização de exames e retirada dos resultados), ou caso o usuário tenha condições, planos de saúde, sabendo que pode estar sujeito a um período de carência. Outra opção seriam clínicas particulares.

A funcionária pública, Daiane de Andrade Cândido, possui plano conveniado, e desde que se tornou beneficiária utilizou apenas exames de baixa complexidade, mas não tem mais de utilizar a saúde pública. “A única reclamação mesmo é que nem sempre o plano libera o exame no dia, então como a sede fica longe, acaba criando um problema logístico”, comenta. As famílias brasileiras da classe média, normalmente buscam operadoras em detrimento à saúde pública.

MAIORES GASTOS COM SAÚDE SUPLEMENTAR

Depois do eletrodoméstico e do carro zero, o plano de saúde se tornou um sonho de consumo plausível para a classe média brasileira. Com a ajuda dessa parte da população, que responde por cerca de 90 milhões de pessoas, o setor de planos de saúde espera crescer 11% em 2012, segundo estimativa da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaude).

O Brasil possui cerca de 47 milhões de beneficiários de planos de saúde privado, coletivos e individuais, e com ou sem assistência odontológica, de acordo com o último balanço da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Isso quer dizer que cerca de 5 milhões de pessoas, sobretudo da classe média, deverão transformar o sonho do convênio médico particular uma realidade neste ano.

Com uma renda familiar mensal de R$ 2,9 mil, o perfil do consumidor brasileiro está mudando, e rápido. Além de consumir mais, as famílias estão investindo melhor, de certa forma. Entretanto, se olharmos os gastos divididos por faixas de renda, fica claro que os maiores aumentos aconteceram nos estratos menos abastados. A classe C, por exemplo, ampliou os recursos destinados ao serviço em 70%.

Em 2009, os gastos com saúde das famílias no Brasil já tinham atingido a marca de R$ 157,1 bilhões, o que significa um crescimento real (descontando a inflação do período) de 3,5% ante os R$141,182 bilhões dispendidos no ano anterior, de acordo com dados do IBGE. As despesas classificadas em “outros serviços relacionados com atenção à saúde”, como consultas médicas e odontológicas e exames laboratoriais, representaram a maior parte dos gastos das famílias em 2009, ou seja, R$ 57,071 bilhões, o que corresponde a 36,3% do total. Cerca de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) do país foi destinado ao consumo final de bens e serviços de saúde, assim sendo, a população gastou quase 30% a mais que o governo para ter esse tipo de serviço.

O EMPENHO DAS OPERADORAS PARA ATENDER O CRESCIMENTO PROJETADO NO SETOR

Considerando o crescimento da classe média e a emergência de mercado de atendimento à saúde, algumas operadoras já ocupam posições destacadas no ranking de melhores e mais rentáveis empresas do país. Em São Paulo, dados de uma pesquisa quantitativa realizada pela ONG Portal Saúde, demonstram que menos da metade dos médicos paulistas atende pacientes com total dependência econômica, por meio dos planos de saúde.

Com isso o custo para ter acesso ao tratamento mínimo está cada vez mais caro. O paciente que adere ao sistema de medicina conveniada, paga para que prestadoras reembolsem médicos e hospitais credenciados. Contudo, os planos de saúde e seguros funcionam também de forma preventiva.
A assessora comercial, Fahima de Moraes, possui plano empresarial da Unimed, uma das principais empresas do setor. Entretanto, Moraes afirma que “infelizmente, hoje ter um plano de saúde privada não é mais como antes, há dificuldades de consultas, além de o atendimento ambulatorial ser bem problemático. O que ainda nos faz manter o pagamento das mensalidades é saber que o SUS consegue ser pior”.

A assessora conta que há quatro anos não possuía plano e quando sua filha precisou de atendimento de emergência, apesar de esperar por duas horas no pronto atendimento público ninguém as atendeu. A solução foi pagar uma consulta.
Os principais planos de saúde disputam a liderança no setor para atender a classe média na demanda por melhores serviços. A estudante Francine Tatit, que possui plano familiar da Unimed, comenta que o agendamento de consultas costuma levar em média uma semana, quando se trata de rotina, mas que o plano também oferece serviços de atendimento emergencial. A Unimed foi uma das operadoras que mais se atualizou e buscou atender a demanda da classe emergente. Seguida pela Clinipam, no Paraná.

O presidente da Unimed Brasil, Dr. Eudes de Aquino, afirma que a cooperativa dá atenção especial a classe emergente, visto que as pessoas que a compõe estão conquistando um espaço de compras importante, inclusive no que concerne à serviços de saúde. “A Unimed entende que a classe C precisa de uma estratégia específica, algo que considere suas características. Os resuldoras tados recentes comprovam que a cooperativa está atingindo seus objetivos”, afirma o presidente. Segundo pesquisa do Datafolha, a participação da instituição no nicho correspondente à categoria social emergente passou de 19% para 24%, entre 2010 e 2011.

A Unimed é uma cooperativa médica, criada e comandada por médicos. Hoje é a marca mais reconhecida em planos de saúde, tem história de 45 anos e está presente em 83% do território nacional. Segundo dados da ANS representa 38% do mercado brasileiro de planos de saúde, com cerca de 18,5 milhões de clientes. Dr. Aquino também explica sobre os investimentos e infraestrutura, “com relação aos médicos cooperados, são 111 mil (um terço do total de médicos em atuação no país); em relação à infraestrutura própria, são mais de 110 hospitais, constituindo a segunda maior estrutura do país, atrás apenas das Santas Casas de Misericórdia”.

O hospital Unimed Noroeste/RS investiu no começo deste ano cerca de R$ 400 mil, na aquisição de carros de anestesia e torre de vídeo, para qualificar a estrutura de atendimento. O diretor do hospital, Jorge Luiz Vargas Montardo, acredita que essa ação proporciona reconhecimento dos beneficiários. Houve aumento do número de cirurgias em 2011, além do crescimento de outros serviços, com destaque especial para o Laboratório de Análises Clínicas, com aumento de 29%.

Estruturalmente, as maiores empresas estão se renovando continuamente, mas ainda pecam nos aumentos de taxas e mensalidades. Hoje, a partir de R$60,00 é possível ter um plano, porém não contempla alguns exames ou tratamentos, sendo necessários mais investimentos por parte dos usuários.

A ANS instituiu a lei do chequecalção, em vigor desde 29 de maio deste ano, que proíbe a exigência de promissória ou qualquer outro tipo de garantia de cobrança para atendimentos hospitalares em casos de emergência (para saber mais leia a coluna quem pagará pelo atendimento?, na p.20). Mesmo que o paciente esteja cumprindo o tempo de carência, o atendimento não poderá ser recusado sob risco de a empresa responder criminalmente, por homicídio doloso ou culposo, podendo pegar de três meses a um ano de prisão, em caso de morte. A determinação é válida tanto para hospitais quanto para as administradoras de planos de saúde.

Entraram em vigor também as novas regras para planos de saúde envolvendo aposentados ou demitidos sem justa causa. Agora, terão direito a fazer a portabilidade do plano sem cumprir novas carências. A forma de calcular o reajuste das mensalidades também muda. A resolução mantém a garantia de demitidos ou aposentados permanecerem no plano pelos prazos que já existiam, mas define critérios para evitar dúvidas.

Por exemplo: todas as pessoas demitidas sem justa causa têm o direito de permanecer como beneficiário do plano da empresa por até dois anos, com a mesma cobertura. Para isso, o trabalhador deve ter contribuído com parte das mensalidades, entretanto, agora, vai assumir o valor integral. Cabe ressaltar ainda que é preciso respeitar o limite mínimo de seis meses e máximo de dois anos.

Entretanto, a agência infelizmente ainda não tem um papel muito ativo quando o usuário busca apoio em virtude das constantes restrições aos tratamentos ou o descumprimento da própria Resolução Normativa 259, que entrou em vigor em 19 de dezembro de 2011. Segundo a Academia Brasileira de Neurocirurgia, quase 50% de beneficiários sofreram ou sofrem algum tipo de limitação, desses 42% foram descredenciados.

Dentre as diversas funções da agência, cabe regulamentar, normatizar, controlar e fiscalizar as operadoras de saúde. Uma das responsabilidades é, portanto conter o aumento das mensalidades, os quais podem variar conforme o contrato de prestação de serviços de saúde para pessoa física ou jurídica. Sendo assim, anualmente, a ANS publica o índice autorizado para reajustes dos planos médico-hospitalares (normalmente divulgado em maio, que, todavia, só pode ser repassado para o consumidor na data de aniversário do contrato), com ou sem cobertura odontológica, contratados após à Lei nº 9656/98.

IMPULSO NA INDÚSTRIA HOSPITALAR

O aumento do acesso da classe média à saúde privada, especificamente por meio de planos, também impulsionou a indústria de equipamentos hospitalares e odontológicos no país. Um estudo da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) estima que, até 2015, 28 fábricas devem entrar em funcionamento no Brasil. Só no caso de duas multinacionais, os investimentos chegam a R$ 152 milhões. Dentre os 27 setores pesquisados, só 12 tiveram crescimento, sendo que a indústria médicohospitalar lidera, com 7,8%. Em 2011, o crescimento do setor foi de 17%, com um faturamento de R$ 9,87 bilhões.

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